25 abr Corra e se esconda na serra
Nas décadas de 50 e 60 nosso terror de criança era a guerra atômica.
Eu pensava num lugar onde nenhum fogo ou gás maléfico chegaria,escapando
de morrer como os japoneses de Hiroshima e Nagasaki. Esse paraíso protegido das irradiações atômicas
era a fazenda Lajedo, o planalto onde nasci, no sertão dos Inhamuns, no Ceará.
O fim de mundo ganhou outras outras imagens com a ciência da ecologia. Agora o planeta aquecerá naturalmente,
em consequência de tudo o que vocês já sabem. Ondas gigantescas varrerão as cidades dos mapas, como o pobre
Recife, abaixo do nível do mar. A saída são as montanhas. Nesses últimos dias achei que Taquaritinga entrou na
minha vida por causa desse terror. Na serra 1300 metros acima do mar estarei protegido como Noé em sua arca.
Pronto, acabaram os temores. Posso dormir sossegado. Basta ficar atento aos primeiros sinais do Armagedom.
Porém, nos quatro dias de Páscoa em Taquaritinga – o meu éden terreal -, descobri que até posso proteger-me das águas,
mas as motos em movimento, os sons altos dos carros e a gritaria infernal das pessoas irão
infernizar meus dias de sobrevivente. Um horror! Por trás da cordialidade brasileira de que falou Sérgio Buarque,
feras arreganham os dentes e mostram raiva e violência. O sinal pode ser um simples buzinar ou
a velocidade excessiva com que dirigem seus carros e motos.
Em algum momento a desordem soará na forma de um estampido, em qualquer canto desse Brasil.
Até numa rua do centro de Curitiba, onde uma mulher foi arrancada do carro por seu namorado policial, algemada e
morta com quatro tiros no peito.
celina castro
Posted at 21:23h, 29 novembroMe encheu o coração ler Corra e se esconda na Serra. Que linda tradução. Os terrores se avolumam. Com essa leitura voltei à minha criança que estaria protegida para sempre na fazenda onde nasci.