Hay Olimpíadas, soy contra | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
Saiu uma pesquisa Datafolha dizendo que 65% dos brasileiros são contra a realização dos Jogos Olímpicos, no Brasil. Eu não fui consultado, mas também sou contra. E olha que até gosto de assistir as disputas e me alegro quando ganhamos uma medalha. Ouro, de preferência.
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Hay Olimpíadas, soy contra

Saiu na semana passada uma pesquisa Datafolha dizendo que 65% dos brasileiros eram contra a realização dos Jogos Olímpicos, no Brasil. Eu não fui consultado, mas também sou contra. E olha que até gosto de assistir as disputas e me alegro quando ganhamos uma medalha. Ouro, de preferência.

Mas a Copa do Mundo já me deixou suficientemente envergonhado. Menos pela humilhação sofrida na derrota jogando com a Alemanha, mais pelo vexame da abertura, quando achincalharam a presidente Dilma. Aquilo foi ultrajante, tão feio quanto a votação do impeachement pelos deputados.

Estarrecedor mesmo foram os desvios de dinheiro e os superfaturamentos na construção dos estádios. Sem contar a péssima qualidade das obras. Passados dois anos e várias operações lava-jato, concluímos que o principal objetivo da Copa do Mundo no Brasil era a corrupção, o favorecimento de empresas, os desvios bilionários de recursos para fins que só Deus sabe ou, talvez, nem ele.

Lembro o ex-presidente Lula, chorando, envolto pela nossa bandeira, quando saiu o resultado de que seríamos o primeiro país da América do Sul a sediar as Olimpíadas. Será que ele imaginava todos os escândalos que precederiam essa festa, a crise moral, política e econômica em que estaríamos mergulhados, quando os jogos viessem a acontecer? Certamente, não. Agora, as bolas de cristal são made in China e a intuição sempre foi um dom feminino. Cassandra, a filha do rei Príamo, previu a desgraça que se abateria sobre Troia, mas ninguém acreditou nela.

Nosso país é tão imprevisível, que nem o cego Tirésias seria capaz de adivinhar a trama mirabolante de corrupção e crime em que fomos enredados. Vivíamos o sonho de prosperidade, um novo milagre econômico quando disputamos o direito de sediar a Copa e as Olimpíadas. Os buracos financeiros deixados pelos jogos de Atenas e Londres não nos assustaram. Queríamos mostrar ao mundo a força da Nação, a democracia consolidada.

Triste Brasil, oh quão dessemelhante / Estás e estou do nosso antigo estado. Canto parodiando o mano Caetano. Ninguém imaginaria tamanho desvio de rota do país e do próprio planeta, em curto espaço de tempo. O mundo mergulhando no medo dos atentados terroristas, em guerras orquestradas pelos países poderosos com suas consequentes ondas migratórias, nos avanços da direita conservadora, em mais radicalismo religioso, no acirramento do incurável ódio entre Ocidente e Oriente, nos atentados individualistas com falsas conotações ideológicas, nos novos confrontos raciais americanos.

E nós, tropicalmente inventando a modernidade com nossos doze terroristas de araque. Yes, nós temos bananas. Yes, nós temos terroristas simpatizantes do Estado Islâmico. Já podemos dar início às Olimpíadas, favor começar a tediosa solenidade de abertura. Panis Et Circenses. Mutantes parodiados. Mandamos fazer / De puro aço luminoso um punhal.

Passada a euforia ou o luto pelos resultados dos jogos, pagaremos a conta do ouro, da prata e de bronze, se ganharmos algum. Conta bem cara. Maior, talvez, do que a deixada pela Copa do Mundo. Dava para prever tudo isso? Não sei. Nem mesmo se irão achincalhar Michel Temer! Vão? Cassandra, responda, ainda que ninguém acredite em você!

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