Os cinco rapazes do hotel Pirâmide | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Os cinco rapazes do hotel Pirâmide

Os cinco rapazes do hotel Pirâmide nunca se interessaram por literatura e nada sabiam do encontro de escritores em Natal. Também não pareciam encantados com a lua cheia e o mar quebrando nos rochedos escuros da praia. Bebiam uísque e um energético chamado red Bull. Riam e falavam alto como os que se acham donos do mundo.

A caminho da praia, passei ao lado da mesa barulhenta dos cinco rapazes hospedados no hotel Pirâmide, com a timidez alarmante de quem não encara a alegria dos embriagados. Minha camisa chamou atenção de um deles, e tive de responder onde comprei o modelo exclusivo.

Uma hora na praia enluarada, esquecendo as falas dos escritores famosos e avaliando o meu significado no mundo literário. Na volta ao quarto, o reencontro com os cinco rapazes do hotel Pirâmide, bebendo uísque e energético, e falando todos ao mesmo tempo. São uns pândegos, pensei, lembram Mercúcio, Benvólio e Baltasar, os amigos de Romeu. Mas eles nada leram de literatura brasileira, muito menos Romeu e Julieta, de Shakespeare.

Não é a minha triste figura de intelectual que atrai os olhares dos cinco rapazes, mas a camisa que visto com displicência. Hospedados no mesmo hotel por onde circulam algumas figuras ilustres das letras nacionais, os rapazes ignoram tudo em volta deles e bebem uísque com o energético red bull.

– O Senhor é escritor?

– Sou.

– Então sente aqui com a gente. Nunca conversei com um escritor, me convida o que é empresário de uma banda de forró.

O que se veste apenas com uma toalha amarrada na cintura me revela que o avô escrevia e era o segundo maior folclorista, depois de Câmara Cascudo. Lamenta ter lido apenas um livro dele. O mais jovem da turma fará provas para o vestibular de medicina, no dia seguinte, e relaxa se embriagando. Um outro rapaz não seguiu o conselho da mãe, o de fazer medicina e ficar rico. Preferiu ciência da computação. Não sei o que deseja da vida o quinto rapaz. Lembro apenas que se queixava de ter sido agredido por um dos companheiros. Todos falavam ao mesmo tempo, riam, bebiam, gritavam.

A minha vida pelas três mulheres do sabonete Araxá! – ofereceu o poeta Manuel Bandeira. Não sei quanto daria pelos cinco rapazes do hotel Pirâmide. Custou-me um grande esforço a convivência de uns poucos minutos, o tempo de algumas fotos e de sentir a estranheza daquele mundo sem literatura e sem poesia. Mundo de uma aridez extenuante, só comparável em aborrecimento a outro mundo, o das litaratices de que vivo fugindo.

Peço a Deus que proteja esses meninos brincalhões, que gozam da minha cara, enquanto tento compreender o sentido de suas vidas. Muito cedo perdi o riso fácil, o prazer de jogar o tempo fora. Algo me escapa das motivações desses jovens. Rezo para que os cinco rapazes do hotel Pirâmide, que se divertiam com quase nada, nunca inventem de atear fogo em índios e mendigos, agredir homossexuais, bater em empregadas domésticas indefesas, dirigir embriagados e atropelar pedestres.

Que riam da cara assombrada dos intelectuais caretas. Disso podem rir a vontade, porque não faz mal a ninguém.

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