Louvor às mulheres do planeta | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Louvor às mulheres do planeta

Louvo as mulheres do planeta, em todas as latitudes.

Louvo professoras, lavadeiras, executivas, juízas, empregadas domésticas, vendedoras, quebradeiras de coco babaçu, corretoras de imóvel, catadeiras de marisco, deputadas, floristas, balconistas, babás, feirantes, modelos de passarela, atrizes, atletas, faxineiras, bailarinas, cantoras, poetas… louvo.

Louvo minha avó materna Dália Nunes de Brito, que ficou viúva com apenas 33 anos, com nove filhos para criar. Que administrava sozinha a propriedade, criava a família na confiança em Deus, rezando um rosário de madrugada, outro ao meio dia e o último ao anoitecer. Louvo sua fé, sua alegria, seu gosto pela vida em 97 anos de peleja.

Louvo minha avó paterna Maria Bezerra de Moraes, Maria de Caldas, que trabalhava das primeiras horas ao mais tarde da noite, cozinhando, varrendo, passando roupa, tecendo redes no tear, alimentando a família de nove filhos e, nas colheitas de arroz, quarenta trabalhadores. Louvo sua honestidade, os firmes traços indígenas no rosto.

Louvo minha mãe, Rita Leandro de Brito, incansável no sustento da família de oito filhos, sobrinhos, irmãos e agregados. Louvo sua coragem de assumir com o esposo, aos 20 anos, a fazenda em que nasci, com milhares de hectares. Louvo seu cristianismo, a vida a serviço dos necessitados, as portas da casa abertas aos pedintes, enfermos, loucos, prostitutas, miseráveis, de onde todos saíam alimentados e consolados.

Louvo minhas cinco irmãs, Renalvia, Rivânia, Rosane, Rosemary e Silvana, na companhia de quem conheci a fraternidade, o sentido de ser irmão e ter irmãs.

Louvo minha esposa e companheira Avelina, ao lado de quem atravesso quase meio século, dormindo e acordando do lado direito, amparado e confortado. Louvo o olhar que me envolve, a vontade feminina que me cerca, as mãos que me deram os melhores livros para ler, o hausto que soprou-me a coragem de ser homem. Louvo tudo isso e mais louvaria se a modéstia não me aconselhasse a contenção.

Louvo minha filha Isabel, a Cordélia que me estima o tanto que deve estimar e nada a mais, nem a menos. Louvo a alegria de ter uma filha mulher, de reconhecer nela a essência do feminino, suas sutilezas e poder de transformação.  Louvo a graça, a firmeza, a bondade, tudo o que foi geneticamente aprimorado em gerações de mulheres.

Louvo minhas netas Ana, Sara e Cecília, amparo de minha velhice, luzes que se acendem quando tudo ameaça apagar. Nelas, louvo o que já louvei e o que ainda resta louvar.

Louvo minha nora Camila, em cujo ventre gerou-se Cecília. Dos seus peitos jorram leite como água nas fontes antigas, alimentando gerações futuras. Louvo a beleza, a alegria e a graça do feminino reproduzido.

Louvo a modéstia e a discrição de minha nora Tainá, seu jeito quase encoberto de revelar-se feminina. Louvo suas aparições, o consolo das crianças, a música que brota das mãos, a fala de poucas palavras.

Louvo Josefa Lourenço, moradora das terras do meu tio avô, que vivia pelas casas das pessoas torrando café, rindo e contando história. Louvo Teresa Lourenço, sua filha, lavadeira e engomadeira de profissão, quando os ferros ainda funcionavam com brasas. Louvo a doceira Isabel Virgínia, que tornou minha vida mais doce. Louvo Júlia, vendedora de ovos; Coleta, vendedora de bananas; Elvira, vendedora de tapiocas; Irinéia, vendedora de fogos de São João. Todas mulheres simples do povo, com sua coragem, tristeza, alegria, vontade, força e receios.

Louvo as mulheres todas do planeta. As africanas que caminham seis horas diárias, carregando água para abastecer a casa. As afegãs que sonham em libertar-se da opressão das burcas. As mães de nossas periferias e favelas, inseguras quanto à vida dos filhos e a própria vida. As iranianas que ocupam as ruas, exigindo direitos iguais aos dos homens. As mães da Praça de Maio, derrubando regimes com seu protesto silencioso. As índias das florestas, lutando para continuarem a existir como povo e cultura. As negras quilombolas, as sem-terra, as romeiras, as moradoras de rua, as politizadas, as que ficam em casa, as que cozinham, criam os filhos, os netos, ensinam nas escolas, atendem nos hospitais e postos de saúde, plantam, bordam, semeiam e colhem.

E rezo pelas que acreditam nas promessas de um mito de pés de barro, nas mentiras dos falsos profetas, peço que os seus olhos se abram e suas mentes se iluminem na força do feminino que tudo pode e transforma.

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