13 maio Estaca no rabo de todos eles
Diário do isolamento 16
(quarta-feira, 13 de maio)
Entrei na faculdade de medicina, da Universidade Federal de Pernambuco, em fevereiro de 1970, um ano depois da promulgação do AI-5. O clima era assustador.
Essas mulheres passadas da meia idade, que saem às ruas vestindo camisas da seleção brasileira, pedindo novo golpe militar e a volta do ato institucional, não sabem o que ele representou para muitos de nós. Ou esqueceram, ou estavam de viagem a Disney.
Elas são iguais a muitos da antiga esquerda, políticos, jornalistas, professores e até ex-presos, que embalados pelo antipetismo – por inveja, ressentimento ou lavagem cerebral – ajudaram a construir e a eleger o mito Satanás.
Desejo que todos penem no inferno de Hyeronimus Bosch, ardam nas chamas e sofram empalados numa estaca.
Eternamente.
Em 1970, na faculdade de medicina, reproduzia-se o modelo de castas – não havia cotas. Ou, para citar Gilberto Freyre, também invejado por Fernando Henrique Cardoso e sociólogos da USP, o modelo da Casa Grande e Senzala. As vagas oficiais para o curso eram apenas 120, mas 155 estudantes conseguiram entrar com um mandato de segurança, sendo até hoje chamados de os excedentes ou a turma do mandato.
Era a senzala.
Fieis ao modelo colonial açucareiro, a Casa Grande, vinte alunos oriundos dos colégios Marista e São Luis, se matricularam juntos durante todos os cinco anos de faculdade, inseparáveis, nos primeiros lugares. Ficaram conhecidos como “Turma dos 20”.
Havia alguns ricos – naquele tempo o abismo entre os ricos e a classe média não era tão abismal quanto hoje –, aspirantes a ricos e puxa-sacos dos ricos. Tinha uma filha e um filho de dono de cartório, vice governador biônico da ditadura militar; uma filha de proprietário de moinhos, com sobrenome estrangeiro; e outros posudos. Pequenos subgrupos sociais gravitavam em torno dos “vinte”, sentindo-se honrados com alguma forma de diálogo, um simples cumprimento ou mesmo uma carona. A ralé, o rabo do cometa, os matriculados por último eram pobres, exóticos, maconheiros, veados e subversivos.
Ah, tempinho!
Outro epíteto pouco lisonjeiro e desonroso da “Turma dos 20” era o de “Turma do Bizu”.
Explico.
Durante o vestibular, um professor da Universidade Federal, filho do reitor Amazonas, passou as questões da prova de física para os vinte prestigiados estudantes. Alguém do grupelho, que havia sido reprovado nas provas anteriores, por despeito registrou o “bizu” em cartório. Depois de publicado o resultado de física, a imprensa teve acesso à informação e todos os jornais estamparam o escândalo com os nomes dos beneficiários. O professor pediu afastamento e foi para os Estados Unidos, como pretende fazer nosso ex-ministro Sérgio Moro.
Permanecem em causa os deuses, o destino e a sociedade, como na Grécia antiga. Mas entoa-se a peã ao capital, a lei é cada um por si e Deus contra todos. O conceito de seres que convivem em estado gregário e em colaboração mútua, nunca funcionou para nós como sociedade.
A História brasileira igual se repete em modelos micro, médio e macro, fiel ao mesmo formato, desde a colonização, como se obedecesse a um código genético. É difícil romper o ciclo vicioso, o eterno retorno, o ditirambo da tragédia. Vez por outra alguém tenta, mas se deixa corromper pelo vício da historicidade ou é engolido.
Também,
o que não muda,
nunca,
é o destino dos esmagados na senzala.
Amaro Agostinho dos Santos Junior
Posted at 21:19h, 13 maioPuta que pariu , que texto realista da porra! Desculpem as palavras . Estaca no rabo de todos eles!!!