28 fev
Nesses dias de conflito entre Ucrânia, Estados Unidos, países da OTAN e a Rússia, declarou-se sanções econômicas aos russos e até restrições à cultura produzida por esse povo. Temporadas e circulação de artistas no ocidente foram canceladas. Uma barbaridade! Durante a ditadura militar brasileira, a rede Globo anunciou a exibição de O Lago dos Cisnes, mas foi proibida poucas horas antes, pois se tratava de bailarinos de um país comunista.
Sou contra todas as ocupações, expansões e colonizações. Sou contra a filosofia do Destino Manifesto, do filósofo estadunidense Waldo Émerson, que valida aos Estados Unidos o direito de se expandir pelo mundo, de ocupar todos os territórios, de promover golpes de estado e ser a Nação sobre todas as Nações. Por que nunca houve protestos contra a ocupação dos franceses na África? Será porque se trata de países de população negra?
Continuo lendo a literatura russa e escrevendo sobre a literatura russa.
Penso num romance russo que li bem jovem e reli sempre: Os Irmãos Karamazov. Devo muito a este livro, apesar dos seus excessos narrativos. Certa vez, Paulo Francis fez uma leitura apenas do que achava essencial no romance, deixando de fora o que lhe parecia desnecessário. Concluiu que a força de Dostoievski reside no excesso.
Dostoievski inaugurou a psicanálise antes de Freud, não como método terapêutico, mas como investigação da psique humana. É o equivalente russo de Shakespeare, pois também reinventa o humano. Tudo cabe na sua literatura, o real e o transcendente.
Segundo Burckhardt, a épica da sociedade moderna é o romance, mesmo que seja um gênero ambíguo, espécie de confissão, autobiografia ou gênero filosófico, um formato de escrita em que os russos são absolutos.
Tornou-se enfadonha a discussão de se é mais difícil escrever um conto ou um romance e que gênero seria mais perfeito. Decadentes ou não, romances continuam sendo escritos aos milhares, atestando, talvez, que o mundo que rodeia seus heróis continua tão ambíguo como os próprios heróis neles representados.
É necessário que mais gênios russos como Dostoievski continuem escrevendo romances, que o mundo os leia e tente compreender os motivos pelos quais o homem está sempre à procura da ruína e do caos.
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