23 mar Sobre a designação de emigrantes
Sempre achei errado o nome que nos deram: emigrantes.
Isso quer dizer retirantes. Mas nós
não nos retiramos por livre decisão
escolhendo um outro país. Tampouco nos retiramos
para um país afim de ali ficar, quem sabe para sempre.
Fugimos. Fomos expulsos, expatriados.
E o país que nos acolhe há de ser um exílio e não um lar.
Quedamos inquietos, o mais próximo possível da fronteira
esperando o dia do regresso, observando a menor
mudança no outro lado da fronteira, interrogando com ânsia
cada recém chegado, não esquecendo nada, não entregando
nada, não perdoando nada que se passou e nada perdoando.
Ah, não nos ilude o silêncio dos estreitos! Ouvimos os gritos
que vêm dos campos de concentração. E não somos nós mesmos
quase como rumores de crime que escaparam
através da fronteira. Cada um de nós
que caminha com sapatos rotos por entre a multidão
dá testemunho da vergonha que agora enxovalha a nossa terra.
Mas nenhum de nós
vai ficar aqui. A última palavra
Ainda não foi falada.
Bertolt Brecht
O poeta, escritor e dramaturgo alemão Bertolt Brecht conheceu o exílio e o que é ser emigrado. Afegãos, iraquianos, líbios, sírios, africanos de várias nações, povos e tribos também conhecem a dor e o desespero de ser imigrante, refugiado, sem pátria. Os ucranianos são agora os emigrados de uma guerra que vinha sendo preparada pelos Estados Unidos, países da Europa Ocidental e Rússia, há pelo menos oito anos. Putin afirma ser uma guerra de sobrevivência, uma resposta à expansão da OTAN. Como em todas as guerras, existem dois lados: opressores e oprimidos, invasores e fugitivos, algozes e vítimas. E dor, sangue, morte e desolação.
Amaro Agostinho dos Santos Junior
Posted at 14:52h, 28 marçoDescrição perfeita do que é a guerra . Emigrar : Sentimento terrível de quem é obrigado a sair, fugir, escapar de sua terra tão bem dito por Brecht. Temas de extrema importância para a humanidade que ainda resta em alguns de nós.