Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós! | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!

Durante a pandemia de Gripe Asiática, que surgiu em Guizhou, na China, em 1956, e se disseminou pelo mundo nos anos de 1957 e 1958, morreram cerca de 2 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde. Ela pode ser considerada leve, se comparamos à calamitosa Gripe Espanhola, de 1918 a 1919, que matou de 50 a 100 milhões de pessoas e afetou em torno de 40 a 50 por cento da população mundial. Surgida nos EEUU, ganhou esse nome porque os espanhóis foram os primeiros a anunciá-la.

Era comum, durante a pandemia da Gripe Espanhola, as pessoas amanhecerem com sintomas e, à noite, já terem morrido. Não havia o conhecimento científico de hoje, nem as vacinas e antibióticos, daí a alta letalidade. Rodrigues Alves, eleito presidente do Brasil em segundo mandato (1918/1922), não tomou posse em 15 de novembro de 1918 porque estava com a gripe, vindo a falecer em janeiro de 1919. Pela constituição brasileira da época, o vice só poderia assumir se o presidente eleito tivesse governado pelo menos 2 anos, o que não aconteceu. Novas eleições foram realizadas.

Não lembro de outro chefe de estado brasileiro afetado por pandemia. O caso mais recente é do nosso atual presidente, Sr. Jair Bolsonaro, que exerce o cargo num tetravirato com os filhos Flávio, Eduardo e Carlos. Em meio à campanha mundial para controle do Coronavírus, com voos internacionais cancelados e fronteiras fechadas, ele faz uma viagem questionável aos Estados Unidos, um dos cinco países com maior número de doentes, e retorna com 11 membros da comitiva contaminados, com teste positivo.

Como se a insanidade da viagem desnecessária não bastasse, o Sr. Jair Bolsonaro estimulou através de suas redes sociais as manifestações do último dia 15, contra o Congresso e o Supremo. Contraditório e incoerente, mandou o povo ocupar as ruas, se aglomerar, quando o ministro da saúde aconselhava evitar os ajuntamentos de pessoas. E foi mais longe. Devia guardar quarentena, por conta do convívio com contagiados, mas foi à rua, abraçou fanáticos, fez selfies e provocações, acompanhado por um diretor da Anvisa, órgão da vigilância sanitária do Ministério da Saúde. Enquanto isso, na Espanha, drones sobrevoavam as ruas pedindo às pessoas para ficarem dentro de suas casas.

Até a deputada Janaína Paschoal, ela mesma, a do PSL de Bolsonaro, que encaminhou o processo contra Dilma Rousseff e se elegeu com 2 milhões de votos, sugeriu a cassação do presidente. Miguel Reale Júnior, que também assinou o impeachment, fez coro a Janaína e solicitou que Bolsonaro seja considerado inimputável.

(Desculpem, mas lembro que inimputável é a pessoa que será isenta de pena em razão de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, que ao tempo da ação ou omissão não era capaz de entender o caráter ilícito do fato por ele praticado, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.)

O fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, também postou um vídeo no domingo 15, durante as manifestações pro governo Bolsonaro, em que minimiza a gravidade do novo coronavírus e afirma que a pandemia é uma “tática de Satanás” e uma estratégia da mídia “para apavorar as populações e as nações”. Edir Macedo e a Universal apoiaram e apoiam o governo de Bolsonaro, do qual recebem benefícios através da Record. Na contramão da OMS e dos órgãos de saúde, Edir confirma o obscurantismo de sua Igreja, enriquecida graças à manipulação dos fiéis.

Durante a gripe asiática, eu era um menino que se sentia ameaçado por algo incompreensível e sobrenatural. Minha avó, igualmente ignorante da ciência, mas cheia de fé em Deus, mandou que eu escrevesse em tirinhas de papel o singelo apelo à Virgem: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!” Os papéis foram colados com grude de goma em todas as portas e janelas da nossa casa no Crato e na propriedade da avó. A mãe e o pai, modernos e melhor informados sobre a ciência e a medicina, nos preveniam sobre os perigos da contaminação. A avó, com o seu rosário de contas azuis e brancas ao pescoço, prescrevia rezas. Na família numerosa não houve um único caso da gripe. Durante anos, acreditei que foram os papeizinhos que afastaram o perigo para longe.

A avó viveu de 1897 a 1994, com boa saúde. Sofreu perdas dolorosas, atravessou epidemias e pandemias, sempre rezando de madrugada, ao meio dia e à noite, antes de dormir. Invejava sua fé em Deus, a religião sem igreja que praticava, singela e popular. Deixei muitas coisas para trás, outras me deixaram, como a fé que imaginava ter. Mesmo assim, em meio aos cuidados preventivos, vou repetir a oração de minha avó e pedir a proteção da Virgem Maria.

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