O desânimo leva à inércia | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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O desânimo leva à inércia

Diário do isolamento 23

(domingo, 12 de julho)

Amanheceu um belo domingo de julho no Recife: sol aberto, intensa luminosidade, frio agradável. Senti vontade de passear, mas limitei-me a uma caminhada pelas áreas livres do prédio. Casos de Covid em amigos e conhecidos, alguns com morte, me deixam paralisado. Os acenos da abertura não me convencem, a maioria das pessoas que pode se dar ao luxo continua em casa.

Até quando?

Amanhã há de ser outro dia, garante o samba de Chico Buarque.

Mas o amanhã se posterga aos próximos quinze dias, depois a um mês e depois para uma data que ninguém sabe quando será.

Você vai ter que ver, a manhã renascer e esbanjar poesia…

Quero ver sim, mas começo a sentir-me descrente e desanimado. Uma reportagem do jornal The New York Times fala do empobrecimento da América Latina com a pandemia, e um relatório da ONU alerta para o número de miseráveis no Brasil, que irá dobrar. Nem preciso ler os jornais para saber disso.

Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro…

Difícil é acreditar nesse momento. O desânimo emperra as articulações, o corpo e a mente se acomodam, deixam de agir e entram numa perigosa inércia. Os afazeres se postergam para depois, até serem nunca.

O “Adiamento” de Fernando Pessoa.

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã… Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, e assim será possível; mas hoje não… Não, hoje nada; hoje não posso.

Em Sonhos, filme do japonês Akira Kurosawa, um comandante tenta conduzir os soldados a um forte, em meio à tempestade de neve e à escuridão. É preciso resistir ao cansaço, à vontade de cair e adormecer, o que significa a morte. O comandante e os soldados prenderam-se com cordas, temendo que alguém se extraviasse.  Movem-se no limite da esperança e da resistência humana. Perdidos, dão voltas. De repente, escutam estampidos e vozes chamando. Descobrem que giravam em torno do mesmo ponto, que o forte sempre estivera a alguns passos deles.

Onde estará a porta, quando ela se abrirá para nós?

Jorge Luis Borges afirma que a porta é a que escolhe, não o homem.

o.

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1 Comment
  • Amaro Agostinho dos Santos Junior
    Posted at 14:47h, 12 julho Responder

    Sensação horrível nos corroe!
    Vamos gritar bem alto , talvez nos escutem no Forte e venham nos resgatar dessa noite de trevas .
    Um silêncio ensurdecedor se abateu sobre nós!

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