23 fev Um aniversário sem bolo, apenas com velas para mortos
A data 16 de março de 2020 será lembrada por mim, enquanto viver. Nesse dia, minha esposa e eu fechamos as portas de casa para os netos, filhos, familiares, amigos e empregados. Começamos um isolamento radical, que seria atenuado apenas meses depois.
Meu comportamento em relação à pandemia de Covid-19 mudou bastante ao longo de um ano. Antes, eu responsabilizava somente o Governo Federal e seu Ministério da Saúde pela falta de valorização da ciência, na prevenção e tratamento da doença. O negacionismo, a irresponsabilidade frente as medidas preventivas, a propaganda de medicamentos inócuos como a cloroquina, de valor negado por instituições científicas, a falta de investimentos na rede pública de saúde, tudo isso nos trouxe ao caos que atravessamos, ao segundo lugar no número de mortos por Covid.
Fui, talvez, o primeiro a alertar sobre o contágio dessa postura anticientífica no meio médico, no Conselho Federal de Medicina e noutros conselhos, nas associações médicas e sindicatos. Radicalmente aderidos ao governo de Jair Bolsonaro e ao bolsonarismo, as instituições e seus associados embarcaram na antipolítica do Governo para a pandemia, embora os médicos estivessem individualmente no front dos ambulatórios e hospitais, arriscando as próprias vidas, heroicamente solitários.
Apenas em janeiro de 2021, o Conselho Federal de Medicina, que sempre apoiou o governo Bolsonaro, depois de carta assinada por cinco ex-presidentes e 14 ex-conselheiros da instituição cobrando uma postura oficial do órgão, manifestou-se. Embora negando que houvesse sofrido pressão, o CFM recomendou a vacinação. Vejam que atraso do órgão supremo dos médicos brasileiros. Mesmo assim, o Conselho não teve coragem de se posicionar contra os chamados “tratamentos precoces” da doença. No documento, faz uma recomendação genérica às autoridades brasileiras, de que garantam aos profissionais “autonomia para fazer o diagnóstico e a prescrição de tratamentos aos seus pacientes, àqueles que livremente aceitem a prescrição”.
Ou seja, o Conselho Federal de Medicina continua respaldando o Governo Federal e a prescrição do aplicativo TratCOV: hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina a pacientes infectados pelo coronavírus. Essa orientação vai de encontro à OMS e a todos os órgãos científicos do mundo. O CFM prefere o obscurantismo e negar a ciência para não contrariar Bolsonaro e o bolsonarismo.
No Comments