31 ago Vão colocar guizos nos nordestinos como faziam aos leprosos?
Os sertões, livro canônico sempre em primeiro lugar nas listas dos mais importantes na formação de nossa nacionalidade brasileira, é um marco de preconceito com o homem sertanejo e nordestino, considerados como se fossem iguais. Há 118 anos, Euclides da Cunha, um positivista republicano, supremacista, frenologista e racista continua formando gerações de intelectuais, professores e acadêmicos no preconceito com as diferenças regionais.
Vez por outra explodem exacerbações de ódio e desprezo pelos nordestinos, pela nossa produção cultural, como nas eleições do atual governo. Há protestos, mas nada tão veemente como os que aconteceram após o assassinato de George Floyd, talvez porque a nossa morte aconteça por asfixia lenta e contínua. Mesmo quando houve o massacre genocida de Canudos, o Brasil em busca da modernidade consentiu e calou porque se tratava de “bárbaros patrícios”, entregues à “selvatiqueza épica”. Os sertões, com todos os seus erros, mantém viva essa memória.
A questão não é apenas cultural, é política. Não se resolverá em discussões acadêmicas. Você acha que o desprezo de Fernando Henrique Cardoso e dos que ele representa, pelos nordestinos e periféricos, vai se curar fácil? Duvido. Também duvido que os acadêmicos, orgulhosamente instalados em universidades do sudeste, se ocupem da produção periférica e de outras regiões. Melhor é continuar estudando Machado e Clarice Lispector, que já foram consagrados, e tratar como regionalista tudo o que é produzido fora do Rio e São Paulo.
Amaro Agostinho dos Santos Junior
Posted at 11:48h, 01 setembroCurto, direto no queixo, e preciso ! Nocaute! Acordemos ! Estamos vivos e não queremos que nos ponham guizos!