O susto de ler Grande Sertão: Veredas | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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O susto de ler Grande Sertão: Veredas

Nunca mais fui o mesmo depois da leitura do Grande Sertão: Veredas. Li-o com fervor, na mais absoluta entrega, memorizando cada linha, porque sabia que não voltaria a ele e a nenhum outro livro de Guimarães Rosa. Percebi, como muitos escritores, que temos de largá-lo cedo, sob pena de ficar encantado nos remansos de metáforas, nas corredeiras barrocas do português reinventado, arcaico e contemporâneo, popular e erudito, esquecido da lavoura própria. O Grande Sertão é armadilha, livro infinito, de veredas se abrindo ao leitor. Cada um escolhe por onde ir. Alguns mal dão partida, outros se perdem no caminho, outros mais afoitos vão até o final e, como eu, acabam aos prantos,  abestalhados, zonzos com o ritmo dessa locomotiva que embala, embala, embala… embebeda. Livro bendito e amaldiçoado por conta da inveja que nos causa, o desejo de tê-lo inventado. Livro de poucos leitores. Esbarram no idioma rosiano, língua que pede decifração.  Virou totem tabu. Intocado. Entocado. Subiu para o altar. Não se atrevem mais a questionar uma de suas linhas, condenando-o ao gelo do perfeito. Virou Alcorão. Não me condenem à morte porque escrevi duas vezes questionando o seu final. Não gosto do jeito como acaba. Aquela transformação de Diadorim de homem em mulher, por arte de não sei que Demo. Achei esquisito. Atravessei um mar de páginas convencido do amor entre dois homens, grande amor fiel, Riobaldo e Diadorim, dois machos viris. Desconhecia o final, o que a televisão revelou para o Brasil que não lerá Guimarães. Nas últimas páginas do livro aquilo, Diadorim mulher. “Diadorim, duro sério, tão bonito, no relume das brasas.” “Nonada.” “Vote!” Quem já se viu? Parece romance da Donzela Guerreira? Parece Mahabharata? O épico descambou para mítico. Assim, por medo de quê? O Segredo de Brokeback Mountain.

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