21 jan E OS ROMANCES DE GRACILIANO RAMOS, QUEM AINDA LÊ?
Graciliano, por algum motivo que desconheço, é adotado no curso de letras da USP. A mesma sorte não tem Jorge Amado, nem José Lins do Rego. E Gilberto Freyre foi cancelado há muito tempo, ainda nem estava na moda o uso dessa expressão: ser cancelado.
Quando publicou-se Vidas Secas, em 1938, a técnica do escritor chegara ao máximo de pessoal, em quatro romances diferentes nos temas e na construção, mas que mantinham o mesmo estilo, “a mesma atitude filosófica perante o Homem, matéria prima da ficção”, como observou Wilson Martins. De romance para romance – Caetés/1933; São Bernardo/1934; Angústia/1938 – Graciliano se desfaz gradualmente da carga de subjetivismo e angústia que o caracterizam, até que em Vidas Secas, que mais parece um livro de crônicas ou contos, alcança um alto grau de serenidade no estudo psicológico dos personagens: de Fabiano, de Sinhá Vitória, dos meninos, de Baleia e do soldado amarelo.
A paisagem sertaneja, quando descrita, é apenas para realçá-los. Ela só agrava o pessimismo do autor em relação ao mundo; acentua o silêncio das pessoas, que desaprenderam os modos de falar, único jeito de se livrarem de suas memórias. Os entraves de Fabiano, questionando a necessidade da fala, recriminando-se quando comete excessos, nada mais são que os questionamentos de Graciliano em torno da própria escrita, obcecado pela depuração, convencido de que o escritor luta menos com idéias do que com palavras. E que apenas por meio delas pode livrar-se do sofrimento da memória, mergulhando no esquecimento ao escrever.
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