04 fev Ainda Jorge Amado
O jornalista Astier Basílio me escreve de Moscou, onde estuda literatura russa. Disse-me que por lá Jorge Amado continua sendo a grande referência da literatura brasileira. Constatei isso na Alemanha, França, Itália e nos países por onde viajei para feiras e bienais. Paulo Coelho, também bastante lido, embora em declínio, não é propriamente um romancista, fica nas prateleiras da autoajuda. É Jorge Amado quem nos representa, sem substituto, no quesito número de leitores.
O mais popular dos seus romances continua Gabriela Cravo e Canela, mesmo com uma personagem feminina que lembra as heroínas românticas, por mais estranha que pareça a comparação. É idealizada a viagem de Gabriela fugindo da seca, a sensualidade e o sexo sem culpa. Também é de estranhar seu enorme talento na cozinha, considerando-se que ela veio de um mundo sertanejo pobre, de culinária exígua. Mas tudo serve à fabulação em torno de novos valores éticos e culturais, cuja nota prevalente é o idílio entre o turco Nacib e a mulata Gabriela, e o confronto entre o coronel e o exportador: a tradição e a inovação. Acusam Amado de criar estereótipos femininos como o da mulata, substantivo proscrito entre os novos escritores. É necessário um distanciamento no tempo e se compreender a época e o contexto político em que o romance foi escrito. Se não se fizer isso, boa parte da obra de Jorge Amado vai para a fogueira do feminismo e racismo.
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