10 mar Ariano Suassuna e o Brasil profundo
Ariano gostava de referir duas obras marcantes na sua carreira: Auto da Compadecida e O Romance da Pedra do Reino. Na Compadecida, ele faz a opção por um teatro inspirado na tradição popular, que se tornaria a marca registrada, a base do movimento lançado em 1970, o Armorial.
Nenhuma peça do teatro brasileiro tornou-se tão popular, com tantas encenações como O Auto da Compadecida. Houve um grande impacto na década de 1950, quando ela foi lançada, por conta das críticas à Igreja Católica. O texto permanece vivo e encenado.
No O Romance da Pedra do Reino Ariano cria um sertão mítico, épico, inspirado no romanceiro de tradição ibérica e popular, nos folhetos de cordel e na sua própria vida, cheia de tragédias mas também burlesca. Ariano defende conceitos e pontos de vista sobre a formação do povo brasileiro e revisita o sertão de Euclides da Cunha e Guimarães Rosa com um novo olhar.
O poeta Ariano é menos conhecido e lido, embora seja de boa qualidade. Ariano transita por vários territórios da produção literária, sempre com sucesso. Mas o seu discurso em defesa da cultura brasileira, amplamente difundido nas aulas espetáculo, tornou-se uma de suas maiores contribuições não apenas à literatura, mas à cultura do Brasil, sobretudo do Nordeste.
O Nordeste sempre teve importantes escritores, dramaturgos e poetas na cena literária do país. Podemos considerar que o moderno romance brasileiro nasce com Graciliano Ramos. O Movimento Regionalista e o Romance de 30 também surgiram no Nordeste. Mesmo não se considerando um regionalista, Ariano continua essa tradição literária.
Os autores que mais o marcaram foram os ibéricos, os latinos clássicos, e os nacionalistas russos, nos quais identificava relações com o Nordeste brasileiro, sobretudo na criação a partir de uma base popular. Ariano difundiu a cultura nordestina para todo o país, principalmente a partir do Movimento Armorial. Porém o seu zelo não era apenas com o Nordeste, mas com todo o Brasil.
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