17 mar Shakespeare e o consolo no desamparo
Shakespeare foi dos autores que li mais cedo e mais vi representado no teatro e no cinema. Duas adaptações cinematográficas do Rei Lear me marcaram profundamente: a de Peter Brook e a de Kurosawa, que recebeu o nome de Ran. O final de meu romance Galileia é fortemente marcado pela última cena do filme de Kurosawa – o homem diante do seu destino, desvalido de Deus, cego à beira de um abismo. Porém a marca mais forte de Shakespeare em minha vida e no meu processo criativo é a liberdade de apropriação do conhecimento, a incorporação do cotidiano, dos acontecimentos comuns, das falas vulgares, quase chulas. E certa inquietação, a consciência de que usamos bem pouco de nossa capacidade criativa, que há muito por ser inventado e que nunca devemos nos sentir satisfeitos. Shakespeare é o autor que mais visito, é um consolo em todos os meus desamparos.
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