15 abr Ao lado das mulheres, sempre
Há uma história recorrente na minha literatura: o assassinato da personagem Donana pelo seu esposo João Domísio. Ela aparece pela primeira vez no conto “Faca”, do livro com o mesmo nome. Depois é contada de outra maneira em “O que veio de longe”, no “Livro dos Homens”. E é um dos temas centrais dos romances “Galileia” e “Estive lá fora”.
Por que a insistência no tema?
Esse bruto assassinato aconteceu de verdade na região onde nasci, no Ceará, no final do século XVII, e tanto a vítima como o assassino eram pessoas da minha família. A história foi incorporada à mitologia sertaneja local e eu a ouvi ainda criança. Fiquei fortemente impressionado por ela e tomei a decisão de me colocar sempre ao lado das mulheres, fazer da causa feminina a minha causa.
A crescente violência contra as mulheres no mundo, sobretudo no Brasil e no nordeste, me causa horror. Penso em formas mais eficazes de luta. O que posso fazer? O que todos os homens podem e devem fazer? Participei dos movimentos feministas e minha atitude perante a vida foi sempre ao lado das mulheres.
Há lutas sutis e lutas escancaradas. Quando, no espetáculo Baile do Menino Deus, ponho o Menino Jesus nos braços do pai José é uma maneira sutil de apontar um comportamento adequado ao homem: um homem delicado, companheiro, que divide os cuidados na família. O “Baile” é visto por 70.000 pessoas na rua e por mais de 300.000 na televisão.
Posso fazer muito em defesa da mulher através da minha arte e de minhas atitudes como homem e cidadão. Preciso fazer mais, bem mais. Quero as manifestações escancaradas. Ainda não sei que manifestações são essas. Mas estou pronto para gritar.
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