Arquivos Links | Página 19 de 27 | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Diário do isolamento 18 (sexta-feira, 29 de maio) O doente tem cura? Na medicina, costumamos anotar as queixas referidas pelo paciente, os achados do exame físico e dos exames complementares – laboratoriais, radiológicos, tomográficos, etc. Somados os pontos de uma suspeita clínica, fechamos o diagnóstico e iniciamos o...

Dizem que não aprecio as cidades. Pura invenção. Costumava caminhar pelas ruas antigas do Recife como quem percorre as galerias de um museu: olhando quadros e enxergando o que se oculta por trás de pinturas emolduradas. Recife é um palimpsesto de aquarelas submersas na caliça...

Diário da epidemia 17 (sexta-feira, 22 de maio) Eu canto o trabalho que liberta (com mote de Walt Whitman) Trabalho é liberdade, afirmava Mira Alfassa, mais conhecida por A Mãe. Se você não trabalha, alguém terá de fazê-lo no seu lugar, observou Tchekhov. Nesse tempo em que nos pedem ou obrigam...

Prólogo (A cidade, lugar do Teatro, entre arredia e sedutora) Deve-se chegar ao Recife pelos ares, voando de ultraleve. Assim podemos enxergá-lo inteiro em meio ao oceano, aos rios Capibaribe e Beberibe, às marés e aos mangues. Vemos cada pedaço de terra firme cercado de águas salobras,...

Ai de mim que sequer tenho a sombra por companhia. Meu coração é um engenho remoendo nostalgia: As imagens que eu retenho de hoje são de outro dia.*1   Monólogo (O Teatro reflete sobre ele mesmo)           Cerrada a cortina e apagado o lustre da plateia, os derradeiros espectadores transpõem...

Caminha sempre aos domingos, com a devoção de um católico que frequenta a missa. Religiosamente. Bermuda jeans, camisa de malha meio gasta, sandálias de couro no lugar dos tênis e o boné ganho numa loja de construção. Anda dez quilômetros se a bebedeira do sábado...

Diário do isolamento 15 (domingo, 03 de maio)   Passei dias sem ânimo de escrever uma página. O diário já existia antes que eu o chamasse assim, na forma de crônica ou pequenos ensaios. O tema da pandemia e do desgoverno brasileiro tornou-se repetitivo, monótono, um lugar comum...

(terça-feira, 28 de abril) As feridas crônicas Eu tinha apenas 12 anos e morava no Crato, quando aconteceu o golpe militar de 1964. Já escrevi muitas vezes sobre isso, mas não custa nada repetir. Lembro de ter ouvido os discursos de Arraes, Brizola e João Goulart,...

(domingo, 26 de abril) A loja dos horrores “Se for mesmo imperioso, terei de lavar as mãos quarenta vezes com potassa, outras quarenta com raiz aromática, e mais quarenta com sabão, totalizando cento e vinte vezes.” Ainda não cheguei a tanto, mas se algum dia sairmos do isolamento...

(quarta-feira, 22 de abril) Descobrimento Não sonhei, embora o espanhol Calderón afirme que toda a vida é sonho. Na prisão, ondas invadem meu terraço, onde busco me concentrar na leitura de um livro. O maior bem é tristonho, leio. Lembranças retornam e não consigo afastá-las de mim....

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