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25
maio
Dizem que não aprecio as cidades. Pura invenção. Costumava caminhar pelas ruas antigas do Recife como quem percorre as galerias de um museu: olhando quadros e enxergando o que se oculta por trás de pinturas emolduradas. Recife é um palimpsesto de aquarelas submersas na caliça...
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22
maio
Diário da epidemia 17
(sexta-feira, 22 de maio)
Eu canto o trabalho que liberta (com mote de Walt Whitman)
Trabalho é liberdade, afirmava Mira Alfassa, mais conhecida por A Mãe.
Se você não trabalha, alguém terá de fazê-lo no seu lugar,
observou Tchekhov.
Nesse tempo em que nos pedem ou obrigam...
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20
maio
Prólogo
(A cidade, lugar do Teatro, entre arredia e sedutora)
Deve-se chegar ao Recife pelos ares, voando de ultraleve. Assim podemos enxergá-lo inteiro em meio ao oceano, aos rios Capibaribe e Beberibe, às marés e aos mangues. Vemos cada pedaço de terra firme cercado de águas salobras,...
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18
maio
Ai de mim que sequer tenho
a sombra por companhia.
Meu coração é um engenho
remoendo nostalgia:
As imagens que eu retenho
de hoje são de outro dia.*1
Monólogo
(O Teatro reflete sobre ele mesmo)
Cerrada a cortina e apagado o lustre da plateia, os derradeiros espectadores transpõem...
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14
maio
Caminha sempre aos domingos, com a devoção de um católico que frequenta a missa. Religiosamente. Bermuda jeans, camisa de malha meio gasta, sandálias de couro no lugar dos tênis e o boné ganho numa loja de construção. Anda dez quilômetros se a bebedeira do sábado...
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13
maio
Diário do isolamento 16
(quarta-feira, 13 de maio)
Entrei na faculdade de medicina, da Universidade Federal de Pernambuco, em fevereiro de 1970, um ano depois da promulgação do AI-5. O clima era assustador.
Essas mulheres passadas da meia idade, que saem às ruas vestindo camisas da seleção...
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03
maio
Diário do isolamento 15
(domingo, 03 de maio)
Passei dias sem ânimo de escrever uma página. O diário já existia antes que eu o chamasse assim, na forma de crônica ou pequenos ensaios. O tema da pandemia e do desgoverno brasileiro tornou-se repetitivo, monótono, um lugar comum...
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28
abr
(terça-feira, 28 de abril)
As feridas crônicas
Eu tinha apenas 12 anos e morava no Crato, quando aconteceu o golpe militar de 1964. Já escrevi muitas vezes sobre isso, mas não custa nada repetir. Lembro de ter ouvido os discursos de Arraes, Brizola e João Goulart,...
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26
abr
(domingo, 26 de abril)
A loja dos horrores
“Se for mesmo imperioso, terei de lavar as mãos quarenta vezes com potassa, outras quarenta com raiz aromática, e mais quarenta com sabão, totalizando cento e vinte vezes.”
Ainda não cheguei a tanto, mas se algum dia sairmos do isolamento...
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