js_composer
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foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home1/ronaldoc/public_html/site2/wp-includes/functions.php on line 6121Quando me perguntam se eu sou um escritor regionalista, percebo o subtexto oculto pela quest\u00e3o liter\u00e1ria. Reconhe\u00e7o assombrado que o modelo colonialista e escravocrata que nos formou como povo e na\u00e7\u00e3o nunca se desfez, permanece na desigualdade social, na concentra\u00e7\u00e3o de riqueza em poucas fam\u00edlias, na economia neoliberal, no racismo, na fome, no exterm\u00ednio de pobres e negros, de \u00edndios e trabalhadores do campo. O questionamento deixa de ser acad\u00eamico e se torna geogr\u00e1fico, traz embutido o preconceito com as regi\u00f5es Norte e Nordeste, economicamente menos desenvolvidas. Sou dramaturgo, talvez por isso eu reviva o massacre de Canudos, as bombas arremessadas de avi\u00f5es da FAB contra os miser\u00e1veis do Caldeir\u00e3o. Escuto as hist\u00f3rias de minha av\u00f3 materna, cuja propriedade ficava a apenas seis quil\u00f4metros do s\u00edtio de agricultores liderados pelo beato Jos\u00e9 Louren\u00e7o, narrando o bombardeio. Lembro a raiva que sentia ao avistar o brigadeiro Jos\u00e9 de Macedo Sampaio, um dos pilotos, celebrado como her\u00f3i pelos habitantes do Crato, cidade minha e dele.<\/p>\n
Nossos her\u00f3is da hist\u00f3ria! Duarte Coelho, capit\u00e3o-donat\u00e1rio que os meninos de Olinda narram em epopeia, num matraquear sem f\u00f4lego e sem consci\u00eancia. Em meio aos feitos e gl\u00f3rias do mito, nenhum refere o massacre dos \u00edndios Caet\u00e9s de Igarassu, dizimados pelos canh\u00f5es portugueses, ancorados no bra\u00e7o de mar que ladeava o morro com o aldeamento. No lugar, mandaram erguer a primeira igreja do Brasil, aos Santos Cosme e Dami\u00e3o, pela vit\u00f3ria alcan\u00e7ada. Her\u00f3is bandeirantes! Emprestaram nomes \u00e0s avenidas, ruas, viadutos, rodovias e monumentos de S\u00e3o Paulo. Modelo de colonizadores eficazes, que, segundo Euclides da Cunha, as sub-ra\u00e7as do Nordeste brasileiro n\u00e3o foram capazes de repetir com igual efici\u00eancia na escraviza\u00e7\u00e3o de \u00edndios, no sequestro e estupro de mulheres ind\u00edgenas, na captura de escravos negros fugitivos, na explora\u00e7\u00e3o de minas. Her\u00f3is na expans\u00e3o de territ\u00f3rios, na grilagem de terras tomadas aos nativos. Her\u00f3is cantados pelos nossos poetas, por Olavo Bilac no poema\u00a0O ca\u00e7ador de esmeraldas<\/em>, que me obrigaram a memorizar e dizer numa festa do col\u00e9gio, n\u00e3o conseguindo at\u00e9 hoje esquecer as estrofes.<\/p>\n Cito o escritor e poeta latino Sal\u00fastio: essas coisas n\u00e3o aconteceram nunca, mas sempre existiram. Agora existem mais que nunca. Vivemos a agudiza\u00e7\u00e3o do que se fermentou e curtiu-se em s\u00e9culos. Tramado por fam\u00edlias poderosas, que det\u00eam o poder. Por intelectuais como Euclides da Cunha, que proclamou em sua cartilha\u00a0Os sert\u00f5es<\/em>\u00a0a superioridade racial de brancos europeus e a inferioridade de negros e \u00edndios. Que acreditava na degenera\u00e7\u00e3o resultante dos cruzamentos de ra\u00e7as. Que foi e ainda \u00e9 aclamado nas academias apesar de sua palavra preconceituosa sobre o homem sertanejo nordestino.<\/p>\n Tamb\u00e9m me espanta a elite de pensadores, jornalistas, pol\u00edticos, m\u00e9dicos e escritores eugenistas \u2013 melhor chamar a eugenia de racismo disfar\u00e7ado em ci\u00eancia \u2013 opondo-se aos cruzamentos, \u00e0s sinapses de nossa forma\u00e7\u00e3o: Renato Kehl, Miguel Couto, Roquette-Pinto, Gon\u00e7alves Viana, J\u00falio de Mesquita, Oliveira Vianna, Arnaldo Vieira de Carvalho, Monteiro Lobato,\u00a0 Nina Rodrigues e muitos, muitos outros que defendiam medidas extremas: controle matrimonial e da reprodu\u00e7\u00e3o humana, miscigena\u00e7\u00e3o para branqueamento e regenera\u00e7\u00e3o racial, esteriliza\u00e7\u00e3o eug\u00eanica, sele\u00e7\u00e3o de imigrantes e desvaloriza\u00e7\u00e3o do mesti\u00e7o brasileiro.<\/p>\n Em\u00a0Galileia<\/em>, romance de 2008, em seguida a matar o primo Ismael, repetindo o crime do tio Jo\u00e3o Dom\u00edsio, o personagem Adonias lamenta que depois de viver em outras sociedades, de reconhecer o esfor\u00e7o que elas fizeram para melhorar, todos voltam \u00e0 barb\u00e1rie e praticam os atos de sempre. Foi assim na \u00c1ustria e Alemanha, cujo povo havia alcan\u00e7ado o mais alto grau de civiliza\u00e7\u00e3o nas artes, na filosofia, na psicologia, na educa\u00e7\u00e3o e capitulou ao del\u00edrio de Hitler e seus seguidores, retornando \u00e0 mais primitiva selvageria.<\/p>\n Algo semelhante acontece no Brasil e no mundo, neste momento da Hist\u00f3ria. Retornam ondas do passado, a supremacia, o preconceito, o controle de na\u00e7\u00f5es mais ricas sobre as mais pobres. Essas ondas nunca deixaram de existir, se aparentavam isso \u00e9 porque agiam silenciosas ou disfar\u00e7adas. No Brasil, desde o golpe militar que proclamou a Rep\u00fablica, as for\u00e7as armadas vivem a lat\u00eancia de reassumir o poder, sempre a postos para novos golpes, como em 1964. Temos uma democracia sob amea\u00e7a e uma Rep\u00fablica n\u00e3o consolidada. Em risco maior com o crescimento e a politiza\u00e7\u00e3o das igrejas evang\u00e9licas pentecostais e neopentecostais, manipuladas pelos pol\u00edticos, que se tornaram um poder paralelo semelhante ao da igreja cat\u00f3lica, no passado recente.<\/p>\n Mas percebem-se rea\u00e7\u00f5es positivas no mundo inteiro. No feminismo, na afirma\u00e7\u00e3o de grupos LGBTI+, na onda de protestos de negros e brancos contra o racismo e a viol\u00eancia policial, deflagrada pelo assassinato de George Floyd, no reconhecimento de que o capitalismo concentrador de renda j\u00e1 n\u00e3o atende \u00e0s nossas demandas. Mas \u00e9 sobretudo na identifica\u00e7\u00e3o de pessoas, grupos e sociedades comprometidas com a justi\u00e7a e o bem social de todos que chegamos \u00e0 certeza tchekhoviana de que o mais importante \u00e9 transformar a vida; todo o resto \u00e9 in\u00fatil.<\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Quando me perguntam se eu sou um escritor regionalista, percebo o subtexto oculto pela quest\u00e3o liter\u00e1ria. 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