js_composer
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home1/ronaldoc/public_html/site2/wp-includes/functions.php on line 6121bridge
foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home1/ronaldoc/public_html/site2/wp-includes/functions.php on line 6121Durante o Natal, a imagem do Sagrado Cora\u00e7\u00e3o da casa de minha av\u00f3 ficava esquecida e desprestigiada. Ela s\u00f3 cuidava do Jesuscristinho, um menino de madeira rosado e risonho, vestido numa camisa de seda, esculpido l\u00e1 longe em Portugal, recebido de presente da nossa tia-av\u00f3 Nizinha. Diferia de todos os Meninos-Deus que conhec\u00edamos, por ser igual aos outros garotos de carne e osso. Debaixo do vestidinho rendado, l\u00e1 entre as coxas, ele tinha uma pitoca e dois ovinhos.<\/p>\n
Minha tia Alzenir achava aquilo uma profana\u00e7\u00e3o e tentava por todos os meios esconder a sexualidade do Deus Menino. Pensou em mandar castr\u00e1-lo, livrando-se da nossa curiosidade. Todas as vezes que pass\u00e1vamos diante da lapinha, levant\u00e1vamos a saia do menino e olh\u00e1vamos o seu sexo, comparando com o nosso. Era dif\u00edcil imaginar que aquele camarada deitado na manjedoura de palha, em tudo semelhante a n\u00f3s, crescera e se tornara o Senhor onisciente pregado na parede, vigiando-nos com os seus olhos bondosos, mas severos.<\/p>\n
Minha av\u00f3 confeccionava os enfeites da lapinha com l\u00e3 de ciumeira e de barriguda. O pouco tempo livre de que ela dispunha, entre os trabalhos e as rezas, ocupava naquele artesanato minucioso, dando vida a carneiros, bois, burros e camelos. As figuras de Jos\u00e9, Maria e dos Reis Magos, de lou\u00e7a modesta, eram as mesmas dos outros anos. Mais bonita que a lapinha da nossa av\u00f3, s\u00f3 mesmo a das irm\u00e3s g\u00eameas Alice e Alzira, famosas em todo o Crato. O ano tornava-se curto para elas constru\u00edrem a cidade cen\u00e1rio que ocupava quase uma sala.<\/p>\n
Havia de tudo naquele universo miraculoso: uma Jerusal\u00e9m reproduzida, montanhas, lagos com cisnes e peixes, ex\u00e9rcitos de soldados romanos, vilas, currais, bichos dom\u00e9sticos e selvagens, florestas, campos, pastores e pastoras em profus\u00e3o, anjos e santos, tudo distribu\u00eddo nos tr\u00eas n\u00edveis: o superior, divino; o intermedi\u00e1rio e o terreal. Era imposs\u00edvel imaginar-se alguma coisa que n\u00e3o estivesse representada ali. Uma vez, eu juro, cheguei a avistar uma Marilyn Monroe, seminua, pendurada do galho de uma \u00e1rvore.<\/p>\n
O cinema trouxe para o Crato o glamour hollywoodiano e a fantasia dos natais com neve e pinheiros. As lapinhas perderam o prest\u00edgio, como o catolicismo. Fellini anunciou o fim da mitologia crist\u00e3, mas eu teimei em saudar o Jesus pag\u00e3o da minha inf\u00e2ncia, em teatro e m\u00fasica, numa festa batizada com o nome de Baile do Menino Deus<\/a>. Propus um come\u00e7o. Anotar\u00edamos a lista dos personagens do Natal, os mais importantes. Gritaram todos ao mesmo tempo. Pedi ordem. Surgiram os nomes, as figuras famosas das decora\u00e7\u00f5es natalinas dos shoppings: Papai Noel, o tren\u00f3, as renas, a \u00e1rvore de Natal, a neve. Estranhei as respostas. Insisti. Lembraram os gnomos, os duendes, a oficina de brinquedos do Gepetto e os an\u00f5ezinhos de Branca de Neve. Assustei-me. N\u00e3o acreditava no que ouvia.<\/p>\n \u2013 N\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel! Quem s\u00e3o os verdadeiros personagens da festa de Natal? Aqueles, sem os quais nada teria acontecido.<\/p>\n Todos concentrados.<\/p>\n \u2013 Espera a\u00ed… Espera a\u00ed… E nada.<\/p>\n N\u00e3o vinha um nome. Apelei.<\/p>\n \u2013 Lembrem pelo menos do principal, o mais importante, o que deu origem \u00e0 noite de Natal.<\/p>\n Por fim, um geniozinho gritou: j\u00e1 sei. Que al\u00edvio! J\u00e1 sei. E com um ar vitorioso anunciou:<\/p>\n \u2013 O peru da Sadia.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Durante o Natal, a imagem do Sagrado Cora\u00e7\u00e3o da casa de minha av\u00f3 ficava esquecida e desprestigiada. Ela s\u00f3 cuidava do Jesuscristinho, um menino de madeira rosado e risonho, vestido numa camisa de seda, esculpido l\u00e1 longe em Portugal, recebido de presente da nossa tia-av\u00f3…<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":711,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"content-type":"","footnotes":""},"categories":[8,45],"tags":[53,83],"class_list":["post-705","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-blog","category-slider","tag-cronica","tag-natal"],"yoast_head":"\n
\nUm dia, convidaram-me no Recife para conversar com uma turma de col\u00e9gio de classe m\u00e9dia. A escola decidira fazer um espet\u00e1culo de Natal e os meninos, em torno de vinte, escreveriam o texto. Queriam a minha ajuda, um empurr\u00e3ozinho. Aceitei e fui ao encontro deles. Eram crian\u00e7as inteligentes, com certa automa\u00e7\u00e3o dos jogos de computador e v\u00eddeo games.<\/p>\n