js_composer
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home1/ronaldoc/public_html/site2/wp-includes/functions.php on line 6121bridge
foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home1/ronaldoc/public_html/site2/wp-includes/functions.php on line 6121Firme no trabalho, resisti a quatro frevos, sabendo que a m\u00fasica troava l\u00e1 embaixo na Estrada do Arraial. A orquestra era boa, o resto eu n\u00e3o tinha como adivinhar sentado. A\u00ed tocou \u00daltimo dia<\/em>, do maestro Levino Ferreira. N\u00e3o consegui conter o fogo recifense. Larguei o computador e olhei de cima, do apartamento no d\u00e9cimo primeiro andar. Achei que os passistas e a orquestra haviam estacionado de prop\u00f3sito na frente do pr\u00e9dio s\u00f3 para testar minha ascese, o prop\u00f3sito de n\u00e3o brincar o carnaval. Luiz Bandeira tinha raz\u00e3o. Existe mesmo a embriaguez do frevo, que entra na cabe\u00e7a, depois toma o corpo e acaba no p\u00e9.<\/p>\n Meu desassossego provinha de dezenove m\u00fasicos e oito passistas, meninos e meninas vestidos de branco, evoluindo em cord\u00f5es como nos desfiles de rua. As sombrinhas com as cores de Pernambuco giravam nas coreografias do frevo, que incorporou t\u00e9cnicas de v\u00e1rias dan\u00e7as, inclusive do bal\u00e9 cl\u00e1ssico. A essa altura eu catalogava os passos, pensando numa outra dan\u00e7a dram\u00e1tica do carnaval, os caboclinhos. M\u00e1rio de Andrade escreveu que eles iriam desaparecer. Est\u00e3o cada dia mais vivos, perderam manobras e passos antigos, mas inventaram novos, incorporando at\u00e9 o hip-hop<\/em>. H\u00e1 um p\u00f3lo de atra\u00e7\u00f5es no largo da feira de Casa Amarela, a quinhentos metros de casa. Na segunda \u00e0 tarde, o desejo me invadiu e fui ver o maracatu na\u00e7\u00e3o Cambinda Estrela, fundado em 1935. H\u00e1 maracatus de baque virado bem mais antigos, como o Elefante e o Le\u00e3o Coroado, mas sempre descubro preciosidades nos brinquedos mais simples. Nesse grupo, prestei aten\u00e7\u00e3o numa dama de chita. A mulher combinara os panos da saia armada com uma sofistica\u00e7\u00e3o de alta costura. O modo como arranjou o turbante e o pano da Costa sobre os ombros revelavam eleg\u00e2ncia de rainha. Fiz quest\u00e3o de cumpriment\u00e1-la e pedir a b\u00ean\u00e7\u00e3o.<\/p>\n O batuque n\u00e3o me impressionou. \u00c9 quase imposs\u00edvel no Recife encontrar batuqueiros mais afiados do que os do maracatu Porto Rico e Estrela Brilhante. Suspeitei que iria embora sem ter sido arrebatado por uma emo\u00e7\u00e3o forte. Ser\u00e1 que o carnaval est\u00e1 me deixando? \u2013 pensei estarrecido. Mas a\u00ed o batuque, justo a orquestra que me pareceu mixuruca, tocou um ponto de terreiro. Um feirante conhecido, homem velho e s\u00e9rio como eu, caiu no transe e por bem pouco n\u00e3o se esbaga\u00e7ou no ch\u00e3o. O que \u00e9 isso, minha gente? \u2013 perguntei em voz alta. E a\u00ed a coisa veio para o meu lado.<\/p>\n Achei que fosse um orix\u00e1 baixando. O batuque acelerou, o puxador cantava a toada e o coro respondia, o feirante gordo rebolava, a rainha e a corte de mulheres rodavam as saias e eu senti algo estranho se aproximar de mim, invis\u00edvel e trai\u00e7oeiro. Saquei a caneta e o caderninho de notas, mas o calafrio n\u00e3o me deixava escrever. Quando percebi que daria vexame igual ao vendedor de laranja, sa\u00ed de perto do batuque, fui pra longe, sentei numa mesa e pedi um guaran\u00e1.<\/p>\n \u2013 Dessa vez escapei por bem pouco, falei alto.<\/p>\n A mulher da barraca percebeu minha palidez e perguntou o que eu tinha. Relatei o acontecido. Ela riu e me disse que o toque era pra Jurema.<\/p>\n \u2013 Me atuar com caboclo, eu, um intelectual s\u00e9rio? Falou debochada e foi buscar meu caldinho de feij\u00e3o.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Firme no trabalho, resisti a quatro frevos, sabendo que a m\u00fasica troava l\u00e1 embaixo na Estrada do Arraial. A orquestra era boa, o resto eu n\u00e3o tinha como adivinhar sentado. A\u00ed tocou \u00daltimo dia, do maestro Levino Ferreira. N\u00e3o consegui conter o fogo recifense. Larguei…<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":768,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"content-type":"","footnotes":""},"categories":[8,45],"tags":[92,53,93],"class_list":["post-762","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-blog","category-slider","tag-carnaval","tag-cronica","tag-humor"],"yoast_head":"\n
\nQuis descer e me contive. Meu gosto pelo carnaval nasce do que ele possui de inven\u00e7\u00e3o e arte. Sou um voyeur<\/em> carnavalesco. Embriago-me com os olhos, os ouvidos, o olfato e a pele. Do meu camarote no d\u00e9cimo primeiro andar posso curtir o carnaval que me encanta, sentir e pensar sobre ele. J\u00e1 imaginaram um carnavalesco pensativo, s\u00e9rio, escondendo-se pelos cantos, camuflado no meio da zoeira? Sou eu. Limpo as lentes dos \u00f3culos, vez por outra saco a caneta e o caderninho e anoto. \u00c9 meu jeito de brincar. Um jeito torto.<\/p>\n
\n\u2013 S\u00e3o as ciladas do carnaval. S\u00f3 vai pra perto quem n\u00e3o tem medo nem deve.<\/p>\n