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action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home1/ronaldoc/public_html/site2/wp-includes/functions.php on line 6121bridge
foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init
ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home1/ronaldoc/public_html/site2/wp-includes/functions.php on line 6121O coment\u00e1rio de Dostoievski est\u00e1 em \u201cRecorda\u00e7\u00f5es da Casa dos Mortos\u201d, um livro de mem\u00f3rias do per\u00edodo em que esteve preso na Sib\u00e9ria. Condenado por atividades revolucion\u00e1rias e liga\u00e7\u00f5es com um grupo liter\u00e1rio russo \u2013 O C\u00edrculo Petrashevsky<\/a> \u2013, que fora banido pelo Tzar Nicolau I, o escritor recebeu indulto quando se encontrava em frente ao pelot\u00e3o de fuzilamento. A pena de morte foi trocada por quatro anos de trabalhos for\u00e7ados e seis de servi\u00e7o militar na fronteira da Mong\u00f3lia. O sofrimento do c\u00e1rcere serviu para que aprofundasse suas investiga\u00e7\u00f5es sobre a alma e a psique, e estudasse os tipos humanos que seriam reproduzidos em romances como \u201cCrime e Castigo\u201d, \u201cOs Irm\u00e3os Karamazov\u201d e \u201cOs Possessos\u201d. <\/span><\/p>\n \u00c9 quase certo que me escapar\u00e3o detalhes das quest\u00f5es levantadas por Dostoievski, como tamb\u00e9m \u00e9 certo que acrescentarei pontos de vista que se tornaram meus, de tanto pensar sobre o assunto ao longo dos anos. Dizem que a mem\u00f3ria hist\u00f3rica \u00e9 capaz de narrar os fatos sem alter\u00e1-los \u2013 o que considero improv\u00e1vel \u2013, e que a mem\u00f3ria liter\u00e1ria se apropria dos acontecimentos, reinventando-os de acordo com o gosto e a necessidade do narrador. Na Sib\u00e9ria, os prisioneiros se encaminhavam a uma progressiva anula\u00e7\u00e3o da individualidade, at\u00e9 serem completamente destru\u00eddos com o passar dos anos. Num sistema carcer\u00e1rio semelhante ao do Brasil,<\/a> ningu\u00e9m se recuperava para um retorno \u00e0 sociedade. Criminosos hediondos conviviam com homens simples, presos por motivos banais ou pol\u00edticos.<\/span><\/p>\n Dostoievski observou que apesar de humilha\u00e7\u00f5es e castigos, isolamento e priva\u00e7\u00f5es, muitos prisioneiros sobreviviam gra\u00e7as ao trabalho: ao que eram for\u00e7ados a realizar e ao que faziam de maneira clandestina, durante a noite, nos pavilh\u00f5es frios e insalubres em que tinham sido confinados. Mesmo com o desconforto e a car\u00eancia de recursos materiais, burlavam a guarda e se dedicavam aos seus antigos misteres de artes\u00e3os livres. Na Casa dos Mortos existiam gatunos, batedores de carteira, vagabundos, vigaristas, assassinos ocasionais, matadores de profiss\u00e3o e gente que n\u00e3o se sabia por que estava ali.\u00a0 <\/span>Havia homens das mais variadas profiss\u00f5es \u2013 sapateiros, remend\u00f5es, ferreiros, marceneiros, ourives, escribas \u2013, que buscavam dar continuidade ao que faziam l\u00e1 fora no mundo dos vivos, por necessidade econ\u00f4mica ou por outras necessidades. Mesmo quando consertavam ou erguiam as muralhas do pres\u00eddio, alguns se empenhavam nas tarefas, buscando alcan\u00e7ar o melhor resultado. Dostoievski sugere que a cren\u00e7a no trabalho e o esmero em realiz\u00e1-lo bem mantinham esses homens vivos. <\/span><\/p>\n Quando decidiam castigar algum desses infelizes, lev\u00e1-lo \u00e0 doen\u00e7a, \u00e0 morte ou ao suic\u00eddio, ocupavam seus dias com tarefas in\u00fateis e absurdas. Mandavam, por exemplo, que carregasse \u00e1gua de um po\u00e7o para outro e, no dia seguinte, repetisse a mesma tarefa, ao contr\u00e1rio. Assim, dias a fio. Igual ao S\u00edsifo grego, condenado no Hades a rolar uma grande pedra at\u00e9 o topo de uma colina, que quando atingia o ponto mais alto rolava novamente para baixo. O esfor\u00e7o de carregar \u00e1gua se tornava a maior de todas as puni\u00e7\u00f5es, pela falta absoluta de sentido. Os condenados enlouqueciam ou se matavam. Quando Albert Camus<\/a> escreveu sobre o suic\u00eddio \u2013 um universo privado de ilus\u00f5es ou de luzes \u2013, chamou o ensaio de \u201cO Mito de S\u00edsifo\u201d. <\/span><\/p>\n Todos os her\u00f3is de Dostoievski se questionam sobre o sentido da vida, escreve Camus. Nisto s\u00e3o modernos: n\u00e3o temem o rid\u00edculo. O que distingue a sensibilidade moderna da sensibilidade cl\u00e1ssica \u00e9 que esta se nutre de problemas morais e aquela de problemas metaf\u00edsicos. Nos romances de Dostoievski, a quest\u00e3o \u00e9 colocada com tal intensidade que s\u00f3 admite solu\u00e7\u00f5es extremas. A exist\u00eancia \u00e9 enganosa ou \u00e9 eterna. O trabalho que supostamente d\u00e1 sentido \u00e0 exist\u00eancia seria enganoso? Ou seria um castigo eterno, moral, como a maldi\u00e7\u00e3o de Iahweh Deus? \u201c… Maldito \u00e9 o solo por causa de ti! Com sofrimentos dele te nutrir\u00e1s todos os dias de tua vida. Ele produzir\u00e1 para ti espinhos e cardos, e comer\u00e1s a erva dos campos. Com o suor do teu rosto comer\u00e1s teu p\u00e3o at\u00e9 que retornes ao solo, pois dele foste tirado\u201d.<\/span><\/p>\n Segundo o relato da Casa dos Mortos, h\u00e1 uma l\u00f3gica existencial que sustenta esses homens que erguem ou consertam muralhas e pali\u00e7adas, mesmo que para se encarcerarem dentro delas. Por mais doloroso que pare\u00e7a, eles podem esmerar-se na lapida\u00e7\u00e3o de pedras, no preparo de argamassas, no corte de madeiras, e at\u00e9 esculpirem detalhes, enfeitando a pris\u00e3o. Por\u00e9m \u00e9 inteiramente absurdo carregar \u00e1gua de um po\u00e7o cheio para outro po\u00e7o igualmente cheio. O trabalho careceria de uma justificativa l\u00f3gica, que cada um pode engendrar de acordo com sua necessidade e cren\u00e7a. S\u00edsifo poderia encontrar um sentido na sua condena\u00e7\u00e3o. Os monges tibetanos gastam os dias criando mandalas de areia, que desfazem logo ap\u00f3s termin\u00e1-las. Cr\u00eaem na eternidade impregnando o ato de cria\u00e7\u00e3o, e que o exerc\u00edcio de fazer os liberta. Por isso eles n\u00e3o se preocupam com a sobreviv\u00eancia do que criam.<\/span><\/p>\n Trabalho \u00e9 liberdade, escreveu Mira Alfassa, conhecida por A M\u00e3e, m\u00edstica do Ashram de Sri Aurobindo, em Auroville, na \u00cdndia. Em que consiste a liberdade do trabalho? Criar pode significar tornar-se igual a Deus, apoderar-se do conhecimento. Ou um modo de romper com a ordem aprisionadora do mundo, estabelecendo uma desordem, que \u00e9 o estado embrion\u00e1rio de uma nova cria\u00e7\u00e3o. Muitas pessoas costumam por no trabalho a mesma f\u00e9 que t\u00eam na imortalidade. E, segundo Dostoievski, a f\u00e9 na imortalidade \u00e9 necess\u00e1ria para o ser humano (que sem ela acaba por se matar) porque se trata do estado normal da humanidade.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" O coment\u00e1rio de Dostoievski est\u00e1 em \u201cRecorda\u00e7\u00f5es da Casa dos Mortos\u201d, um livro de mem\u00f3rias do per\u00edodo em que esteve preso na Sib\u00e9ria. 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